FILOSOFIA

Por trás de toda a ação educativa, existe um conjunto de concepções e uma visão de mundo que a tornam mais ou menos coerente, mais ou menos consistente, na medida em que essa concepção está mais ou menos consciente. Na Projeto, não é diferente.

É por isso que explicamos aqui a visão de mundo – e da educação – que nos move. Uma visão conectada com o grupo de trabalho, a comunidade escolar, a bibliografia disponível e o contexto histórico, sendo, por isso mesmo, aberta a revisões e atualizações.

Nós, da Projeto, acreditamos que:

– O SER HUMANO está em processo contínuo de descoberta, sendo um sistema aberto de reestruturação sucessiva. Nesse processo em que vai se modificando, pela influência dos outros e do meio, também vai modificando o meio e os outros, numa interação e troca constantes. Ao mesmo tempo em que é um projeto permanente, caracterizando-se, segundo Piaget, por um processo progressivo de adaptação, o ser humano é pleno em cada período de sua vida. Resultado de todas essas influências, combinadas com suas próprias características, é um ser único, com possibilidades, necessidades e concepções diferentes entre si.

– Assim, esse ser humano, que é o sujeito da educação, é quem faz o MUNDO. O próprio mundo é um fenômeno subjetivo, mais do que uma realidade concreta, já que o ser humano, conforme sua experiência, sua bagagem, suas concepções e possibilidades, a cada momento, o reinventa e reconstrói, através de sua ação sobre ele e nele. É no mundo e em sua relação com os outros que as comunidades humanas adquirem e constroem instrumentos de adaptação e criação, produzindo cultura. Portanto, é impossível entender o ser humano fora de um contexto histórico-social.

– Por CULTURA entendemos o conjunto de conhecimentos, valores, normas, procedimentos e tecnologias construídos por um determinado grupo social e que dá um caráter específico a esse grupo, diferenciando-o de outros e constituindo um determinado tipo de sociedade. É algo, portanto, a ser assimilado pelo conjunto das crianças desse grupo social, no sentido de sua integração a ele como um membro ativo. Ao mesmo tempo, a cultura herdada é apenas um ponto de partida para esse novo grupo ou geração, que, necessariamente, como agente de criação cultural, transforma, transgride, cria e recria, construindo ou reconstruindo o seu próprio mundo e, teoricamente, avançando.

– O CONHECIMENTO é, assim, ativo e dinâmico, construindo-se e ampliando-se contínua e gradativamente. Conhecer é agir sobre o objeto de conhecimento e transformá-lo, num processo de acomodação que, apesar de desenvolvido e enriquecido pelo contexto social, ou seja, pela possibilidade de troca com iguais ou diferentes, é sempre individual, em função da percepção diferenciada. O conhecimento está diretamente ligado ao processo de conscientização, numa aproximação crítica da realidade. Ou seja, quanto mais conhecimento, maior a possibilidade de estabelecer relações, de pensar, de refletir e, portanto, de se posicionar, numa perspectiva crítica.

– Nesse sentido, a EDUCAÇÃO, particularmente a educação escolar, se torna imprescindível como articuladora, num todo unitário, da cultura e do desenvolvimento individual. É a forma como a sociedade ajuda seus novos membros a assimilarem a experiência coletiva historicamente acumulada e culturalmente organizada, favorecendo, ao mesmo tempo, seu desenvolvimento pessoal. Sabemos que outras práticas sociais, como o convívio familiar, a interação com os meios de comunicação de massa, em especial a TV, as redes sociais e as atividades de lazer, também cumprem essa função educacional. Porém, acreditamos que não seriam suficientes sem a educação escolar, uma vez que a participação mais ou menos espontânea da criança nas atividades habituais dos adultos e das outras crianças, assim como sua observação e imitação, não são suficientes para assegurar-lhe um desenvolvimento pessoal adequado.

– Assim, a EDUCAÇÃO ESCOLAR é um ato fundamentalmente político, envolvendo escolhas que dão uma cara a esse projeto e que estão explicitadas no currículo escolar. Essas escolhas têm relação, como salientamos de início, com as concepções do conjunto da equipe da escola e de sua comunidade.

Nossa filosofia tem como missão, nesse sentido, formar pessoas:

  • abertas, flexíveis e competentes intelectualmente, capazes de respeitar e discutir ideias diferentes das suas, considerando-as, aprendendo também com elas e sendo capazes de reformular as suas próprias;
  • solidárias e tolerantes, capazes de conviver democrática e afetuosamente com o outro e com as diferenças;
  • cooperativas, capazes de integrar-se aos seus grupos de convivência, contribuindo e comprometendo-se com as ações desses grupos, como membros ativos e importantes, ou de formar e propor novos grupos ou novos objetivos a serem perseguidos pela ação coletiva;
  • com sede de conhecimento, com espírito investigativo, inteligentes e instruídas, capazes de formular questões e resolver problemas, de se sentir instigadas diante dos desafios, de valorizar as diferentes estratégias de solução, as diferentes fontes de conhecimento e as diferentes versões de um mesmo fato, tendo em vista a construção de uma visão mais ampla e de um posicionamento mais consistente e crítico;
  • persistentes, capazes de perseguir seus objetivos com garra e de se empenhar em dar o melhor de si a cada momento.

PROPOSTA

Sendo nossa proposta de orientação construtivista, acreditamos que:

  • O aluno é sujeito ativo e pensante, capaz de aprender na interação com os objetos do conhecimento e com o outro, manipulando, experimentando, testando, errando, confrontando e refletindo, a partir do que já foi assimilado e construído anteriormente;
  • O aluno não fica esperando o professor para começar a aprender, pois se pergunta o tempo todo sobre os objetos e fenômenos a sua volta, busca respostas e constrói teorias para explicar o mundo que o rodeia;
  • As crianças não aprendem todas da mesma maneira e em um mesmo tempo, já que as possibilidades de criar suas hipóteses sobre o que quer que seja depende de sua bagagem e experiências anteriores em relação ao objeto de conhecimento em questão;
  • As formas de intervenção do professor – como ele organiza as propostas, as dinâmicas e os materiais que escolhe, o tempo que disponibiliza para cada atividade, os questionamentos e desafios que propõe, o espaço de atividade (não só motora, mas principalmente mental), de autonomia e de interação com os pares que oferece aos alunos – influem decisivamente na possibilidade e no nível de aprendizagem dos alunos.

Essa orientação vale tanto para os conteúdos e atividades de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Humanas e da Natureza, Artes Visuais, Música, Teatro, Educação Física e Língua Estrangeira, como para as aprendizagens da Socialização, que envolvem a construção de um convívio social cooperativo e solidário, com respeito pelos outros e pelas diferenças, num ambiente escolar organizado e produtivo.

OBJETIVOS

Em relação aos alunos, pretendemos:

  • desenvolver as capacidades e habilidades intelectuais, motoras e socioafetivas através da participação em brincadeiras, jogos e demais propostas significativas de aprendizagem em que possam se expressar, interagir com seus pares e refletir;
  • instigar a curiosidade, desenvolvendo a capacidade de fazer perguntas e de aprender;
  • desenvolver a autonomia intelectual e moral, assim como a capacidade de cooperação, respeito e solidariedade;
  • promover a construção de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionadas aos diferentes campos de experiência e áreas do conhecimento, garantindo o acesso aos saberes já construídos e a possibilidade de criação, desenvolvendo as capacidades expressivas, éticas, estéticas e de interação social;
  • proporcionar a participação em situações nas quais a consciência social vá sendo progressivamente formada, bem como construída a identidade individual;
  • garantir o envolvimento e a integração com o ambiente escolar, vivenciando uma socialização ativa e democrática, em diferentes práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma.

Em relação aos professores, objetivamos:

  • favorecer a construção de uma relação de parceria e cooperação, tendo em vista a elaboração e a concretização dos objetivos e propostas de trabalho, de modo que cada um se sinta um membro importante e compromissado;
  • desenvolver e manter uma convivência agradável, pautada no respeito profissional e no compromisso com o grupo;
  • oportunizar, de forma sistemática e continuada, uma formação em serviço, promovendo, organizando e incentivando não só a participação da equipe em cursos, seminários, simpósios, palestras e eventos culturais, que possam colaborar com o desenvolvimento de uma postura mais reflexiva e com seu aprofundamento e atualização, mas também otimizando a possibilidade de aprendizagens nas situações do dia-a-dia e nas instâncias já previstas na rotina escolar (reuniões gerais e individuais, observações, grupos de estudo, relatos e registros de experiências para compartilhá-las e criar uma memória da equipe/do trabalho da escola, por exemplo), despertando o gosto pela possibilidade de estar num processo de educação permanente.

Em relação às famílias, a escola trabalha para conseguir sua parceria, favorecendo:

  • o intercâmbio e o diálogo permanentes, através dos quais possamos trocar informações, criar vínculos e estabelecer uma relação de confiança, buscando ações conjuntas para o melhor desenvolvimento possível das crianças;
  • sua participação ativa nas atividades escolares – na forma de acompanhamento em casa, apoio nas tarefas e presença em exposições, propostas de sala e reuniões – e nos eventos culturais promovidos pela escola;
  • uma convivência baseada na cordialidade, no respeito e na atenção.

METODOLOGIA

Para atingirmos os objetivos traçados para os alunos, é importante que as situações de aprendizagem:

  • sejam significativas e desafiantes, mobilizando a inteligência, iniciativa e a curiosidade dos alunos de forma nem muito aquém nem muito além de suas possibilidades;
  • articulem-se de tal modo que os alunos estejam ativos e em interação com o objeto de conhecimento, sendo desafiados a pensar, formular e explicitar suas próprias ideias sobre ele;
  • contemplem as diferenças entre os alunos, dando conta das adaptações necessárias para desafiar cada um dentro de suas possibilidades;
  • estimulem o coletivo, as construções e formulações em grupo, sem deixar de dar espaço também às construções individuais;
  • imprimam um clima de entusiasmo na sala de aula, a partir do qual os alunos se empenhem e se esforcem em direção ao cumprimento de seu objetivo;
  • estejam relacionadas a interesses e necessidades dos alunos;
  • oportunizem a observação, a reflexão, o questionamento, a experimentação, a expressão das ideias, a formulação e o registro, bem como a sistematização dos conteúdos;
  • constituam-se enquanto jogo, sempre que possível;
  • provoquem avanços intelectuais e morais, sempre no sentido do desenvolvimento da autonomia;
  • suponham a participação direta dos alunos, sempre que possível e em alguma dimensão, na sua elaboração e planejamento, bem como na sua avaliação.

É importante também que o professor:

  • vincule-se afetivamente aos alunos, na construção de uma relação de respeito e confiança;
  • observe atentamente os seus alunos, questionando e investigando suas hipóteses;
  • oriente, informe, auxilie e apoie cada um;
  • faça mais do que fale;
  • intervenha sempre, porém cuidando para não ser “intrusivo”, ou não “atropelar” o processo do aluno;
  • valorize as ideias e respostas dos alunos, desenvolvendo sua autoconfiança;
  • tome os erros como indícios do modo de pensar dos alunos;
  • (re) planeje suas propostas de trabalho a partir do que observa sobre o modo de pensar e agir dos seus alunos, para que estejam alinhados as suas possibilidades e os façam avançar em sua trajetória de construção.

AVALIAÇÃO

Dentro desta proposta, concebemos a avaliação como algo absolutamente inerente, na perspectiva de uma postura constante de observação, investigação e crítica construtiva em relação:

  • à qualificação de nossa prática e intervenções didáticas junto aos alunos, procurando conscientizar-nos dos aspectos que estão dando certo e que podemos ampliar, dos que têm de ser modificados, revistos, melhorados e aprofundados e do que ainda tem de ser buscado, inventado, criado em termos de novas alternativas, dentro da própria equipe, em nossos momentos de estudo e trabalho coletivo, através de iniciativas individuais ou de cursos e seminários que frequentamos ou promovemos;
  • à construção e manutenção de uma boa relação entre todos os segmentos que compõem a escola, dos seus pares entre si, e uns com os outros: equipe – professores, coordenadores, funcionários, monitoras e direção -, alunos e famílias, tendo em vista características que consideramos essenciais como confiança, respeito e parceria;
  • às aprendizagens dos alunos e seu desenvolvimento socioafetivo, garantindo uma atenção especial ao processo de cada um e buscando o melhor aproveitamento possível a cada etapa, de modo a incrementar as propostas de trabalho e encaminhar ações conjuntas com as famílias, sempre que necessário.

Os resultados da avaliação dos alunos são registrados através de um relatório geral da turma e de um relatório individual. Esses documentos são entregues ao término de cada semestre (educação infantil) ou trimestre (ensino fundamental) do ano letivo para as famílias.

Os pais recebem os documentos de avaliação (o relatório geral da turma é postado no site e avaliação individual vai impressa para casa), de forma a poderem apreciá-los com antecedência à reunião com a professora, para, então, discutirem os aspectos relevantes, as dúvidas e as sugestões.

Além desses encontros coletivos, os pais são atendidos individualmente em diferentes momentos do ano pelos professores, coordenação e/ou direção, conforme o caso. A iniciativa desse encontro pode ser da coordenação e dos professores ou das próprias famílias. A escola procura, assim, estar sempre próxima aos pais, esclarecendo, informando, avaliando e tomando decisões em conjunto.

CURRÍCULO

Um norte. É assim que a Projeto enxerga o currículo adotado para cada ano escolar. Através de um conjunto de experiências, propostas, conteúdos, atividades, dinâmicas, materiais e intervenções, contemplando diferentes campos de experiência e áreas do conhecimento, como Socialização e Formação do Estudante, Língua Portuguesa e Literatura, Matemática, Ciências Humanas e da Natureza, Educação Ambiental, Artes Visuais, Música, Teatro, Educação Física, Língua Inglesa e Computação, a escola se sente mais segura não só para ensinar como também para inovar.

Sim, a Projeto reconhece no seu currículo um norte cuja base firme e consolidada permite espaços para variações nas temáticas, fazendo do aprendizado – e do próprio currículo – algo vivo, conectado com os grupos de dentro e de fora da escola, que possa ser articulado e construído junto com a comunidade.

O currículo da escola é desenvolvido através de projetos trimestrais ou semestrais, sequências didáticas, sequências de atividades, atividades mais pontuais ou permanentes.