Dione Martins (Xadalu) será o artista visual estudado em 2023!
É com muita alegria que anunciamos, para este ano, o estudo da obra de Dione Martins, também conhecido como Xadalu Tupã Jekupé. Dione é um artista mestiço que usa elementos da serigrafia, pintura, fotografia e objetos para abordar em forma de arte urbana o tensionamento entre a cultura indígena e ocidental nas cidades. Sua obra, resultado das vivências nas aldeias e das conversas com sábios em volta da fogueira, tornou-se um dos recursos mais potentes da arte visual contemporânea contra o apagamento da cultura indígena no Rio Grande do Sul. O diálogo e a integração com a comunidade Guarani Mbyá permitiram ao artista o resgate e reconhecimento da própria ancestralidade.
Nascido em Alegrete, em 1985, Xadalu tem origem ligada aos indígenas que historicamente habitavam as margens do Rio Ibirapuitã e dedicaram-se à pesca, vivendo em casas de barro e capim, ao redor do fogo, mesmo depois do extermínio das aldeias da região (fragmentos de povos Guaranis Mbyá, Charruas, Minuanos, Jaros e Mbones). A revelação de seu nome espiritual guarani, Tupã Jukupé, em batismo Nhemongarai (ritual de nomeação), pelo centenário cacique Karai Tataendy Ocã, é parte da reconexão de Xadalu com sua ancestralidade indígena. Para o povo Guarani Mbya, “o nosso Deus mandou Xadalu para salvar a história do seu povo através da arte”.
Veio a Porto Alegre em 1987, quando se mudou com sua avó e sua mãe para a vila São Vicente, mais conhecida como Complexo da Funil. No início, perambulava pelas ruas da capital para recolher material reciclável, que garantia o sustento da casa. Depois, seu primeiro emprego foi como gari na Prefeitura de Porto Alegre, varrendo outras tantas ruas. “Em pouco tempo já estava íntimo das ruas e mal sabia que nunca mais iria conseguir viver sem elas. Essa mistura de periferia com asfalto (ruas) tornou empírico meu DNA marginal. Tanto a periferia quanto a rua, sinto elas como a extensão do meu corpo, fazem parte de mim”, explica Xadalu em um trecho do seu livro, Xadalu Movimento Urbano, editado em três línguas: português, inglês e guarani, pela Joner Produções com financiamento do Pró-Cultura RS/FAC/Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer do RS. Dione faz parte de uma geração de artistas ativistas que luta contra o apagamento dos povos indígenas e abre espaços para contar a sua história de resistências, através da arte urbana, possibilitando que outros artistas indígenas também alcancem esse lugar.
Com obras em diversas cidades e lugares do Brasil (dentro e fora de museus), e em mais de 60 locais pelo mundo, especialmente através da técnica chamada sticker art, Xadalu monta uma rede de trocas e intercâmbios (pelo correio e internet) com artistas e colaboradores, que ajudam a espalhar suas obras. Em 2021, recebeu o Prêmio Aliança Francesa com a obra “Invasão Colonial: Meu Corpo Nosso Território”, realizando uma residência artística na capital francesa. Xadalu acaba de embarcar para uma nova residência artística na França e, ao retornar desta viagem, estará conosco para participar da elaboração do projeto sobre sua obra e para planejar a sua participação bem próxima à escola.
Enquanto isso, aguardem a inauguração de um painel na nova sede da escola, resultado de uma parceria do artista com as duas turmas de 5º ano/2022, intitulado “Nossos mundos”. Maiores informações, através dos links pesquisados: http://www.xadalu.com/, Xadalu – Movimento Urbano | Facebook, As áreas indígenas de Xadalu – Extra Classe, Instagram: @xadalu
Crédito foto: Bruno Alencastro