Denise Yates (*)
Participar da feira do livro da Escola me fez pensar em paralelos sobre a história de dois escritores que participaram do evento. Na quinta-feira à noite, 22 de maio, Otávio Jr., escritor estudado, falou sobre como começou a gostar de ler, como essa paixão foi se desenvolvendo e tornou-se gostar de criar histórias, virar escritor e desejar inspirar crianças e adolescentes a se aproximar do universo da leitura e da imaginação. De uma maneira muito afetiva, Otávio falou sobre momentos difíceis de sua vida, que o levaram a se refugiar nos livros e em uma biblioteca comunitária. Sua primeira obra, O livreiro do Alemão, conta como sua vida foi pontuada por oportunidades inesperadas (que alguns chamam de sorte), juntamente com muita determinação, para buscar seus sonhos – e incluir muitas crianças que moram em favelas nesse sonho.
No sábado, dia 24 de maio, às 14h, na feira do livro, Fernanda Machado, escritora, falou na biblioteca do subsolo sobre sua trajetória. Contou como gostava de ler e se refugiava nos livros e na criação de histórias para superar situações de preconceito e isolamento que sofria na escola. Falou sobre como foi determinada em participar das aulas regulares de literatura e estudar dois tomos de O Continente. Ela e sua mãe citaram várias oportunidades ao longo de sua vida (que elas associam à fé), que surgiram inesperadamente: um professor de química que não desejava sua participação em aula, mas após conhecê-la passou a adaptar provas e ensinar conteúdos práticos, do dia-a-dia; o vestibular para Design Gráfico, no qual o tema da redação era algo sobre o que ela tinha muito conhecimento. Essas oportunidades só se concretizaram em função da obstinação de Fernanda para concretizar seus sonhos, sendo o mais recente a publicação de seu primeiro livro, Taragô.
Otávio Jr. e Fernanda têm também algo em comum com as alunas e alunos da Projeto: sabem que a literatura é um universo à parte, que abre portas escondidas para lugares onde nunca fomos e ao mesmo tempo para dentro de nós mesmos. Os trabalhos da Feira do Livro revelam como as professoras e a coordenação pedagógica promovem a leitura como um prazer e fomentam a possibilidade de construir narrativas pessoais, partindo da leitura das obras do autor homenageado, mas indo além, falando de si, de suas janelas, caixas, imaginários. Talvez nem todos os(as) alunos(as) se tornem leitores vorazes ou sigam o exemplo de Otávio Jr. e Fernanda, mas todos terão a chance de abrir essa porta novamente no futuro, quando sentirem desejo ou necessidade. E que sorte a nossa, de sermos pais de estudantes da Escola e poder participar desses momentos.
(*) Mãe do Kauan/4º ano, psicóloga e membro do NAMP – Núcleo Antirracista e Multicultural da Projeto.