Qual a importância da adaptação dos alunos à escola?
Como a escola encaminha esse processo?

Durante o período de adaptação à escola, seja na educação infantil ou no início do ensino fundamental, cada criança, pela individualidade e experiências anteriores, reage de uma maneira. De qualquer forma, esse é um momento muito delicado e importante na vida das crianças, em geral, e de suas famílias e, como tal, procuramos encará-lo.

No caso da educação infantil, a criança, normalmente, está se afastando dos pais (ou, mais comumente, da mãe), por um período mais prolongado, pela primeira vez. Ao mesmo tempo está ampliando seu mundo (físico e psicológico) de uma forma muito significativa e que pode “assustá-la” num primeiro momento.

Já no 1º ano do ensino fundamental, a situação de ir à escola pode não ser mais a grande novidade, mas ainda há todo um conjunto de fatores que pode provocar inseguranças também nas crianças maiores, mesmo para as que já estudam na Projeto – nova professora, novos colegas, novo turno para alguns – e, para os alunos que vêm de outras escolas, a chegada num novo ambiente. E, além de tudo isso, muitas expectativas em relação a essa nova etapa da escolaridade que têm um certo peso, culturalmente falando. Essa situação exige dos adultos (pais, professores, funcionários e coordenadores) um olhar atento também para esse período inicial do ensino fundamental e uma postura acolhedora e paciente, que garantam uma adaptação gradativa dos alunos às novas rotinas, propostas e exigências.

Assim também acontece quando um aluno novo chega em alguma outra série do ensino fundamental. Ele necessitará de um auxílio especial dos professores, funcionários e coordenação para encontrar seu espaço em um grupo já estruturado, estabelendo relações e construindo gradativamente vínculos, ao mesmo tempo que para adaptar-se à dinâmica e ao funcionamento dessa nova instituição, que começa a conhecer.

Os pais, por sua vez, em qualquer dos casos, também ficam ansiosos em relação a como a criança irá reagir e transmitem isso a ela, mesmo sem se dar conta. A situação pode se agravar caso a opção pela entrada da criança na escola (infantil) ou pela troca de instituição – o momento de fazer isso, sua importância, razões etc. -, não esteja ainda tão elaborada ou refletida pelos pais (no caso dos níveis iniciais do infantil, por exemplo, às vezes a entrada na escola é mais uma contingência que uma opção).

Assim, no sentido de facilitar ou amenizar a complexidade inerente a esse período, tanto para a criança como para os pais, a escola traz algumas reflexões e orientações, apresentando a sua visão a respeito e se colocando à disposição para auxiliá-los e esclarecê-los.

Alguns dias antes do início da aula, deve-se preparar a ida da criança à escola. Os pais podem contar a ela, numa linguagem simples, como é a escola (ou o ano escolar para o qual está indo), o que ela vai fazer quando lá estiver, sem esticar muito o assunto, a não ser que ela faça perguntas. Podem também levá-la para comprar o uniforme, explorando as cores e o nome da escola.

Não devem se preocupar muito se ela chorar ou resistir na hora da separação: é normal, mesmo que isso se repita por alguns dias. Entretanto, se essa situação continuar, convém mudar a forma de encaminhar a vinda para a escola (a pessoa que traz a criança, o horário da chegada etc.), o que a coordenação e a professora tentarão combinar com a família. Nem sempre esse choro quer dizer que a criança não quer ficar na escola. Muitas vezes pode indicar que ela está cansada ou com sono (especialmente no caso dos pequenos), ou até representar um manejo emocional para manter a mãe por perto. Contudo, resistências e choros prolongados exigem atenção e é sempre bom um contato próximo entre pais e professores.

Se nenhum dos responsáveis dispuser de tempo para acompanhar o período de adaptação, permanecendo na escola com o(a) filho(a), o melhor é transferir para outra pessoa da família ou de sua confiança essa tarefa, pois se a pessoa que ficar estiver preocupada com os horários, transmitirá à criança a sua ansiedade. É aconselhável, na medida do possível, que se eleja uma só pessoa para acompanhar esse período, evitando-se de vir uma pessoa diferente a cada dia. Essa pessoa permanece na escola, até poder ser liberada, em um ambiente reservado para tal fim, evitando entrar na sala de aula. A criança deve sabe que lugar é esse e a professora a conduz até lá, ou a autoriza a fazê-lo, sempre que ela precisar ver ou falar com o familiar.

Durante esse período de adaptação, em que os pais estão na escola, não devem fazer concessões para o seu filho. Se ele pedir alguma coisa, aconselhe-o a procurar a professora, com quem deve criar laços afetivos. Na verdade, esse é um dos pontos críticos, pois é normal que alguns pais sintam uma certa resistência ou até algum “ciúme” da professora. É importante que reflitam, então, sobre isso e vejam a professora como uma nova aquisição afetiva, uma nova pessoa amiga, e não a substituta da mãe. Para enfrentar melhor esse período, é bom levar um livro ou algum trabalho manual para se distrair.

Se a criança bater ou for agredida por outra criança, é importante não perder o controle. A criança bem pequena (grupos iniciais da educação infantil) não sabe dominar a sua agressividade e, sem capacidade de um raciocínio na lógica do adulto, o ato físico é a linguagem mais utilizada. Um dos trabalhos da escola é exatamente o de fazer as crianças perceberem que podem resolver as coisas de outras formas. Cada um reage de um jeito: umas batendo, outras falando e outras ficando bravas. Contudo não quer dizer que elas vão se agredir o ano todo. Com o tempo e com o desenvolvimento da socialização, outras formas mais adequadas e produtivas de interação e relacionamento vão sendo construídas. É importante que haja um entendimento desses contextos junto à professora da turma.

Pode ser, ainda, que a professora não esteja disponível para dar uma atenção mais individualizada a seu filho no momento de sua chegada e, nesse caso, mostrar algum brinquedo para distraí-lo ou tentar se aproximar com ele de algum colega pode dar certo e ajudar muitíssimo no clima geral. Certamente, não demorará a que a professora venha acolhê-lo, mas é preciso paciência e tranquilidade de parte de todos e, fundamentalmente, parceria e comunicação, pois todos querem o mesmo: que as crianças fiquem bem na escola. E todos trabalham para isso. Às vezes, no entanto, especialmente no Grupo 1 da educação infantil, são várias as crianças para serem atendidas ao mesmo tempo e todas com certo nível de tensão e estresse, que adquirem até por contágio. E nesse tipo de situação, mesmo que organizemos datas e horários diferentes de chegada para cada criança, que disponibilizemos auxiliares e que contemos com professores experientes, podem acontecer momentos mais atrapalhados e difíceis. Por isso precisamos contar também com os familiares.

Superado o período considerado normal de adaptação, a criança pode em determinadas fases demonstrar resistência em ir à escola. Quando isso ocorrer, também é conveniente conversar com a professora ou coordenação da escola com o intuito de localizar o problema e tentar alternativas de solução.

Uma criança com irmãozinho recente, por exemplo, dificilmente irá para a escola com tranquilidade. A escola lhe dará a impressão de que ela foi tirada de seu lugar para cedê-lo ao irmão. Por isso geralmente aconselhamos os pais a não matricularem seus filhos imediatamente antes ou depois do parto ou, se possível, disporem de um período de adaptação mais longo.

A hora de ir buscar a criança também é muito importante, especialmente nesse momento da adaptação. Ela tem necessidade de viver uma rotina na escola e ficará mais tranquila se seus pais forem buscá-la na mesma hora em que vão os pais das outras crianças. Qualquer demora poderá deixá-la insegura. É aconselhável que os atrasos eventuais sejam comunicados à secretaria da escola.

Também é interessante que não se submeta a criança a verdadeiros interrogatórios sobre o que ela fez e o que acha da escola. A curiosidade pode decorrer de sua ansiedade e ela perceberá isso. Caso ela comece a falar da escola, é até muito saudável que os pais participem, compartilhando da sua euforia. Mas nada de perguntas em demasia.

Se a criança ficar agressiva após iniciar sua frequência à escola, isso também é normal e não deve ser motivo de grande preocupação. Essa é a primeira linguagem do grupo que ela leva para casa. Além disso, a escola é um mundo novo que pode lhe provocar algum desequilíbrio nos primeiros tempos, ficando, por isso mesmo, mais agitada.

Quando os pais forem liberados da adaptação, é importante não “fugirem” da criança, mas despedirem-se dela naturalmente.

Resumindo: é muito importante que os adultos estejam tranquilos (ou se esforcem ao máximo para assim se mostrarem), tentando administrar as situações que surgirem com a maior calma possível, tolerando o choro do seu filho e/ou das outras crianças, tendo paciência e confiança, lembrando que cada um tem seu tempo, mas que todos chegam lá. Falar com a criança com voz tranquila e baixa, remetendo sua atenção sempre que possível para a professora e o que ela e os colegas estão fazendo é o ideal. Só as crianças podem chorar e se estressar! Os adultos têm de “segurar as pontas”!
Além de todas essas orientações, julgamos ser importante e determinante para o bom entrosamento da criança na escola, a confiança dos pais na mesma. Para isso é necessário muita abertura e disponibilidade para trocas e encaminhamentos. Todas as dúvidas, incertezas, aspectos com que não concordam, sugestões e reflexões em relação a esse momento de adaptação (a como seu filho está evoluindo, à forma como a interação está se estabelecendo com a professora, coordenadora e colegas, à atenção que você e ele vêm recebendo etc.) deverão ser trazidas pela família à escola, da forma mais direta e ágil possível (um email, um bilhete no caderno, uma conversa rápida ou mesmo uma reunião com a coordenadora e/ou com a professora), para que a situação não se agrave. Isso é fundamental para a construção de uma relação de confiança e parceria entre escola e família, sem a qual a própria adaptação fica comprometida.

Algumas orientações específicas:

Para o Grupo 1 – A adaptação só inicia após a realização de entrevista individual com a professora. Na entrevista será marcada a data de início e a criança começará a frequentar a escola durante pequenos períodos combinados previamente. Nos primeiros dias, a mãe ou o pai (ou outra pessoa designada) fica na escola. Essa pessoa deverá ficar disponível e será solicitada, quando necessário, até que seja liberada do período de adaptação. A duração desse período vai depender do ritmo da criança e de sua capacidade de separar-se tranquilamente desse responsável. É muito importante que a família se organize nesse sentido, prevendo que um dos pais (ou outro responsável) possa dispor desse tempo, garantindo a segurança e o tempo que a criança precisar. Os momentos de permanência da criança irão aumentando conforme orientações da professora. É importante observar seus hábitos e, se for o caso, trabalhar sua alteração antes do período de adaptação, para que a vinda para a escola não coincida com o tempo de sono ou de alimentação.

Para alunos novos a partir do Grupo 2 – A adaptação será organizada de acordo com um cronograma, que é comunicado no ato da matrícula. A cada dia, um pequeno grupo será recebido. O horário será reduzido nesse período e sua ampliação dependerá do processo de cada criança, sendo combinado dia a dia com a família.

Para os alunos do infantil que já vêm frequentando a escola desde o ano anterior – Estes alunos começam desde o primeiro dia em horário normal. Qualquer alteração, em função de alguma necessidade da criança, será combinada com a família. Lembramos que o choro nesse período, mesmo se o aluno já conhece a escola, pode acontecer, conforme características da criança ou de algum momento de maior fragilidade que esteja vivendo. Afinal, o momento sempre traz alguma tensão (despedida da família, após período de férias em que estiveram muito tempo juntos, nervosismo diante do desconhecido – profª nova, colegas novos, sala nova -, irritabilidade pelo calor de fevereiro/março etc.).

Para os alunos do 1º ano – Devem vir para a escola no horário normal e se reunir no auditório, com quem vier trazê-los, sendo, então, apresentados à sua professora. O horário de saída na 1ª semana será às 12h ou às 18h. Caso a criança apresente alguma insegurança maior, chore ou resista a ficar na escola, o responsável permanece pelo tempo necessário, a ser combinado no momento, conforme a situação.

Para os alunos do 2º ano em diante e que já eram da escola – Estes alunos chegam (e saem) no horário normal (7h30 às 12h15 e 13h30 às 18h15), dirigindo-se diretamente para a sua sala de aula, que estará sinalizada no saguão. Os responsáveis que desejarem e acharem necessário poderão acompanhar o aluno até a sala nos primeiros dias.

Para os alunos novos na escola, de 2º, 3º, 4º e 5º anos – Devem chegar 1 hora após o início do turno (8h30 ou 14h30), para que possam ser melhor recebidos pela sua professora e colegas.

Como a escola se organiza para a passagem dos seus alunos do G5 ao 1º ano?

Pensando na importância de um olhar cuidadoso para o momento em que as crianças concluem a etapa de educação infantil e iniciam a do fundamental, fomos construindo algumas ações para que essa transição seja significativa e aconteça com respeito às infâncias.

Para isso promovemos aproximações das crianças do Grupo 5 com as do 1º ano e um encontro especial no terceiro trimestre. A partir de 2023, em que a escola está com suas turmas unidas em uma única sede, esse convívio se dará de forma mais orgânica, compartilhando brincadeiras no recreio, vivenciando tutorias em diferentes áreas e na socialização de estudos, para além de outras propostas novas que estamos construindo. O encontro específico para viverem “um dia de 1º ano” é organizado com a ideia de que os(as) alunos(as) do infantil entrem em contato com o universo do 1º ano através dos(as) próprios(as) alunos(as) dessa série. A partir de perguntas elaboradas pelos(as) alunos(as) do Grupo 5, as quais expressam o que gostariam de saber sobre essa nova etapa da escolaridade, os(as) alunos(as) do 1º ano planejam o encontro com sua professora, pensando em brincadeiras e atividades específicas dessa série, a serem propostas aos menores. Assim, numa tarde sempre produtiva para ambas as turmas, as crianças interagem de forma lúdica e prazerosa, trocando impressões e dividindo expectativas, uns lembrando sua experiência recente e outros procurando amenizar sua ansiedade e curiosidade. Nesse mesmo período as famílias do Grupo 5 são convidadas para uma reunião com o objetivo de compartilharem suas expectativas e conversarem com a coordenação a respeito do 1º ano.

Também no último trimestre as crianças do Grupo 5 iniciam a preparação da atividade de encerramento da etapa de educação infantil, com temática e roteiro elaborados coletivamente. Acreditamos que é um rito de passagem importante, e que envolve pensar a trajetória de cada um(a), suas vivências e experiências escolares significativas até o momento.

Outra atividade que é marca do Grupo 5 e aguardada com entusiasmo é o acantonamento na escola, que as crianças chamam carinhosamente de “dormidão” e acontece no último mês de aula. É um evento preparado para viverem uma noite na escola junto com colegas e professores(as), auxiliando na organização de tudo o que envolve essa experiência: o jantar, a higiene, o cuidado com seus pertences, o cronograma de atividades e o respeito aos rituais de sono de cada um(a).

Todas as propostas são pensadas respeitando as infâncias presentes em nossa comunidade, o que realmente é significativo para as crianças e, principalmente, que marcas positivas somos capazes de promover na memória de todos e todas.

De um tempo para cá, a coordenação permanece a mesma do infantil no 1º ano, buscando garantir tranquilidade nessa transição.

Como acontece a adaptação dos alunos egressos da Projeto em outras escolas?

Normalmente nossos alunos saem com ótimas condições, em sua maioria, para acompanharem e se adaptarem ao trabalho de qualquer escola, tanto em relação a conteúdos como a posturas e habilidades de estudante. Pelas notícias que temos de famílias que já saíram da escola, nossos alunos, de maneira geral, se integram rapidamente e seguem aprendendo os conteúdos desenvolvidos, destacando-se em algumas áreas, como leitura e matemática.
Isso se deve à nossa preocupação em desenvolver um currículo que, além de garantir o cumprimento da legislação e estar em sintonia com os parâmetros curriculares nacionais, vai além, ampliando as experiências e aprendizagens dos alunos em todas as áreas do conhecimento, incluindo fatos, informações e conceitos (o que aprendem), mas tb procedimentos relacionados a cada uma (as habilidades de busca e apropriação de conhecimento que acabam desenvolvendo nesse processo, como ler textos informativos e compreendê-los, fazer resumos e esquemas, observar e fazer perguntas/problematizar, experimentar de diversas maneiras etc.) e atitudes (valorização e respeito às diferenças, capacidade de trabalhar em grupos, iniciativa e persistência, entre outras).

O trabalho em equipe de professores, coordenadores, funcionários e direção, o qual acontece a partir de reuniões sistemáticas (gerais e individuais), de grupos de estudos que buscam atualização e enriquecimento curriculares, de elaborações conjuntas e de eventuais assessorias especiais, bem como de troca com as famílias e de avaliações constantes, sustenta e qualifica nossas ações nessa direção.

No link 25 anos e na fanpage da escola (https://www.facebook.com/pages/Escola-Projeto/261708960632405?fref=ts) temos publicado depoimentos de ex-alunos, que podem ilustrar essa resposta.

Tb podem acessar no item “Reunião de Pais” os resultados de uma pesquisa realizada com as famílias de alunos do ano de 2012 e apresentados aos pais do 5º ano/2013, dando conta de informá-los sobre esse processo de adaptação às novas escolas.