O que é CONSTRUTIVISMO, afinal?

Quando se fala em construtivismo é preciso explicar de qual construtivismo vamos falar, já que são muitos os equívocos e as diferenças que se observa, não só entre os leigos mas também entre os próprios educadores, em relação à sua concepção e implicações pedagógicas. Vamos, então, tentar caracterizar o construtivismo que temos como referência na Projeto.

O construtivismo, que é uma forma de pensar e ver o mundo ou uma corrente filosófica, com implicações e influências em toda a atividade humana (arte, ciência), na educação revoluciona porque tira o foco de atenção dos métodos e resultados, colocando-o no processo de aprendizagem e desenvolvimento, ou seja, na busca de entendimento de como a criança se desenvolve e aprende. Isso não quer dizer que os resultados das aprendizagens não sejam importantes e que a escola construtivista não deva ter expectativas e objetivos definidos. O que se coloca aqui é a importância histórica dessa mudança de olhar sobre quem aprende, compreendendo-o como sujeito ativo e pensante, capaz de aprender na interação com os objetos do conhecimento e com o outro, manipulando, experimentando, testando, errando, confrontando e refletindo, a partir do que já foi assimilado e construído anteriormente, ou seja, de sua estrutura intelectual e de seus conhecimentos prévios.

Essa mudança de foco, pelo que permitiu compreender sobre como a criança aprende, teve implicações radicais na forma de encaminhar o trabalho pedagógico:

  • o ensino tradicional, baseado nas concepções de que se aprende repetindo e de que o aprendiz tem de ouvir, prestar atenção e repetir e o professor tem de transmitir o conhecimento, foi paulatinamente sendo questionado e abandonado ou, pelo menos revisto;
  • passado um período inicial de contato com essas novas ideias e de tentativas apressadas de aplicação, alguns equívocos tiveram de ser desfeitos e, ao mesmo tempo, uma didática que respeitasse os seus pressupostos passou a ser construída.

Por exemplo, foi preciso reformular as ideias de que construir conhecimento significava aprender sozinho; de que o erro não existia, já que tudo era parte de um processo inevitável, e, portanto, a criança não poderia ser corrigida e nem tampouco necessitaria, pois, de qualquer modo, chegaria sozinha ao conhecimento; de que, sendo mais importante a atividade do aluno, o professor ficava em segundo plano no seu processo de aprendizagem e o material concreto, bem como a ação manipulativa em relação a ele, assumiam um papel determinante; de que limites não eram bem-vindos, já que os alunos deveriam ser autônomos; de que as intervenções significavam limitações ao processo da criança e à sua criatividade; de que significativo era o que despertasse interesse no aluno, sendo ele próprio o que deveria decidir sobre os conteúdos a serem aprendidos; de que garantindo-se o trabalho em grupos, nas salas de aula, se estaria garantindo um trabalho construtivo.

Dizer que a criança constrói o seu próprio conhecimento é acreditar que há um processo interno essencial, a partir da interação da criança com o objeto de conhecimento, o qual determina a forma como esse conhecimento será assimilado. Ou seja, é supor que a criança não fica esperando o professor para começar a aprender, pois se pergunta o tempo todo sobre as coisas e fenômenos a sua volta, busca respostas e constrói teorias para explicar o mundo que a rodeia.Nesse processo influem a experiência e a bagagem anteriores da criança, ou seja, aquilo que ela já pôde construir em termos de conhecimentos, estruturas, habilidades e atitudes, assim como as suas condições sócio-emocionais. E é por isso que as crianças não aprendem todas da mesma maneira e em um mesmo tempo. Mas também influi, e muito, de forma decisiva, a intervenção do professor!

Qual o papel do professor numa proposta construtivista?

A forma, a intensidade e a frequência da interação que a criança estabelece com o objeto de conhecimento são essenciais, determinando, por exemplo, o nível dos questionamentos que ela pode chegar a formular, as relações que pode estabelecer e a organização que pode dar a tudo isso.

E é por isso que a intervenção externa é também muito importante, não só em termos de organização do ambiente e disponibilização de materiais, mas principalmente no sentido de instigar, desafiar, informar e orientar, o que, para nós, são funções primordiais do professor.

É essa intervenção que leva a criança a ampliar suas possibilidades atuais para capacidades que ela não poderia manifestar sozinha, mas só poderia exercer com o questionamento e a orientação de um experto/adulto. Essas capacidades, sendo assim estimuladas e trabalhadas, depois de um tempo, podem se tornar capacidades consolidadas, que a criança poderá utilizar com autonomia. Trabalhando nessa “zona de desenvolvimento potencial (ou proximal)”, como a chamou Vigotsky, teremos, pois, a possibilidade de garantir avanços realmente significativos para as nossas crianças, resgatando o papel de ensinante do professor e superando ideias equivocadas: tanto as tradicionais, que o colocavam num lugar distante do aluno, sem conhecer sua forma de pensar e se preocupando somente com o ensino (dar a matéria) e não com a aprendizagem, como as espontaneístas, que o colocavam numa posição completamente passiva, deixando as crianças soltas, abandonadas à própria sorte e com poucas chances de transpor determinados conflitos cognitivos mais complexos.

Nesse sentido, se pensarmos também no papel da atividade do aluno e da manipulação do material concreto, de um lado, e da atuação do professor e papel dos conteúdos, de outro, podemos dizer que, mais do que a supremacia de um dos aspectos, há hoje uma convicção de que todos são muito importantes e estão em íntima relação uns com os outros, influindo, cada um à sua maneira, diretamente, no nível de aproximação com que as aprendizagens são realizadas. Ou seja, não é apenas garantindo que o aluno possa atuar, possa ter acesso a vários materiais concretos, possa manipulá-los livremente, que estaremos assegurando construções significativas em relação ao objeto de conhecimento em questão; poderá haver, sim, algumas aprendizagens, mas, para que se faça um ensino com qualidade, profundidade e consistência, é preciso ir além, oportunizando, a partir da experiência concreta, reflexões relevantes e significativas (eleitas e encaminhadas pelo professor, junto com a equipe da escola, a partir de critérios definidos em uma proposta construída), que levem o aluno a pensar o objeto de conhecimento em diferentes perspectivas, a organizar e a refletir sobre o que pensou, formulando conclusões e princípios e pondo tudo em relação com tudo. Além disso, ter claros os conteúdos que se deseja desenvolver (aqui entendidos os conteúdos não só como conceitos, mas também como procedimentos e atitudes) é imprescindível para conceber e concretizar um trabalho competente em relação a eles.

Assim, a intervenção pedagógica do professor, no seu dia-a-dia junto ao aluno, ou seja, as situações de ensino têm de ser planejadas de modo muito sério e refletido, de acordo com as possibilidades e interesses dos alunos, escolhendo-se as questões, os materiais e os recursos mais adequados ou instigantes para o momento, e coordenando-se sua execução e constante avaliação, em busca de uma aprendizagem que seja significativa. No exercício dessa função, o professor observa, problematiza, questiona, informa, indica, orienta, ajuda, fica junto, ao lado, mostra, propõe, ensina e aprende.